Naquele tempo, minha residência ficava situada em um conjunto habitacional em Veleiros, um bairro periférico na região sul de São Paulo. Dois majestosos edifícios, erguidos em um terreno elevado, dominam a paisagem local com seus vinte e dois andares cada. De longe podem ser avistados, imponentes e imutáveis.
O conjunto abriga 176 modestos apartamentos, mas sua estrutura social é relativamente bem equipada, proporcionando segurança e conforto aos moradores. Mesmo durante as noites, a área comum pulsa com muita atividade, com crianças brincando despreocupadas enquanto suas mães trocam animadas conversas. A área é bem iluminada e o ambiente é acolhedor e reconfortante.
Apesar do charme singelo de Veleiros, com suas ruas planas e largas e casas bonitas e espaçosas, a rua onde se localiza meu antigo condomínio contrasta em seu aspecto geral. Trata-se, na verdade, de uma extensa rua de ligação entre duas importantes avenidas da região que são muito movimentadas.
A rua, é disposta em um formato sinuoso de “S” e é uma via desolada e escura, que serpenteia como uma cobra entre galpões industriais e poucas residências. Ela transmite uma aura de perigo e medo ao cair da noite.
Do ponto de parada de ônibus em que eu descia habitualmente, até o portão do condomínio, eu percorria em torno de 150 metros para chegar exatamente no meio do “S” onde ficava a entrada do conjunto, fazendo com que o portão só fosse visto quando estivesse chegando próximo a ele.
Numa certa noite, voltando do trabalho para casa, desci do ônibus no ponto de parada habitual e comecei minha caminhada para casa. Vinha andando na calçada que margeava um longo muro de uma fábrica e, quando venci a primeira curva da rua, eu me deparei com uma daquelas cenas que não queremos vivenciar.
À aproximadamente uns vinte metros de onde eu parei, estavam três homens armados assaltando um adolescente indefeso. Subjugado junto ao muro, eles o agrediam com alguns sopapos, certamente, para o intimidar e não resistir ao assalto.
Ali parado, tomado pela situação em si, a minha primeira reação foi a de tentar voltar para trás, correr quem sabe. Naquele átimo de segundo, em que o tempo parece parar, o coração disparou em batimentos acelerados e, se eu pudesse ver meu rosto, com certeza o veria numa expressão de palidez.
O movimento instintivo foi de me voltar para trás, contudo, no mesmo momento, eu escutei com toda a clareza que se pode ouvir, uma voz que me disse:
— Não volte, siga em frente!
Era Padre Antenor, espírito benfeitor, que de há muito tempo me acompanha e protege nas lidas da orientação espiritual que tenho a possibilidade de realizar na Casa Espírita em que Trabalho.
Ainda assim, mesmo sendo àquela voz tão conhecida por mim, eu ainda relutei. Foi quando ele em tom mais firme, disse:
— Confia, meu irmão, siga em frente!
Tomado pela confiança na voz firme daquele amigo, que jamais havia se enganado em seus conselhos para mim, eu segui. Claro que o coração, apesar da confiança, acelerou ainda mais, contudo, segui firme.
Quando voltei a caminhar, na mesma medida em que eu avançava adiante, um dos ladrões, com sua arma na mão veio em minha direção. Quando então, definitivamente me aproximei dele, o assaltante, com um leve sorriso nos lábios e olhando em meus olhos, me disse:
— Você, “tio”, siga em paz, e que Deus lhe abençoe.
Atônito diante da atitude dele, simplesmente agradeci e continuei caminhando. Assim que ultrapassei o assaltante que veio em minha direção, os outros dois, imediatamente soltaram o garoto, que, aliviado, correu em direção a sua casa. Segui até meu antigo condomínio e, não avistei mais os criminosos.
Essa experiência, tão singular, é uma da história real que vivi e quis compartilhar com vocês, pois para mim ela tem um fundamento muito importante. Ela ecoa em minha memória como um testemunho de fé e de confiança na proteção divina. É a confiança que devemos ter em Deus e em seus Mensageiros, esses espíritos benfazejos que zelam por nossos caminhos na terra.
Confesso que levei algum tempo para entender por que fui instruído a seguir a andar a frente sem hesitar naquela noite de perigo eminente. Mas agora, vejo claramente a importância do propósito por trás da intervenção do Padre Antenor.
Não apenas fui protegido naquela noite, mas minha ação, guiada pela fé, trouxe alívio e esperança a um jovem assustado. E enquanto as lembranças desse encontro singular desvanecem com o tempo, permanece a certeza de que nossos caminhos são iluminados por forças que estão além do mundo terreno.
Roberto Marco