56 views 4 minutos 0 comentários

Entre o Concreto e o Espírito

Em Crônicas
janeiro 26, 2024

Era noite fria e úmida em São Paulo e, como sempre, agitada. A cidade que nunca dorme parecia pulsar com uma energia única, como se cada luz que brilhava entre os arranha-céus contasse uma história diferente. Era como se os espíritos da metrópole se manifestassem através das frestas da selva de concreto, entrelaçando-se com o movimentado cotidiano noturno dos paulistanos.

Os ventos cortantes que sopravam entre os prédios pareciam trazer consigo uma mensagem reveladora, algo que só os corações mais sensíveis podiam perceber. Jurema, serena senhora nascida nos prados campesinos de uma pacata cidade do interior, mas que há muito tempo vivia na cidade, sempre teve uma intuição aguçada para as energias sutis que permeiam o ambiente. No seu pequeno apartamento, ela se dedicava à prática do espiritismo, buscando compreender as nuances espirituais que se entrelaçavam com a intensidade da Metrópole Paulistana.

Sentada em sua poltrona de costume, sob o pequeno facho de luz de seu abajur a projetar luminosa paz naquele ambiente e com um suave perfume de rosas pairando no ar, Jurema começava suas preces. Ela sentia a presença de espíritos inquietos, buscando conforto em meio ao caos urbano. Em seus pensamentos, ela visualizava muitas almas perdidas, caminhando pelas avenidas congestionadas, tentando encontrar seu caminho na vastidão de prédios e luzes que se estendiam até onde a vista alcançava.

Ao se conectar com o mundo espiritual, Jurema percebia que, assim como os vivos, eram muitos os espíritos que carregavam suas próprias histórias de dor e aprendizado. Nas vielas esquecidas, ela sentia a presença de entidades que, em vida, trafegaram pelos desvios dos caminhos e, que por isso, foram esquecidas, mas que buscavam redenção na nova esfera da existência.

A cidade, para Jurema, era como um grande palco onde encarnados e desencarnados se esbarravam. Cada rua, cada esquina, cada praça, carregava consigo uma vibração única, uma energia que refletia as experiências compartilhadas por aqueles que ali viveram, por aqueles que ainda vivem e por aqueles que ainda viverão. São Paulo, sob a perspectiva espírita da velha Senhora, tornava-se um terreno fértil para as interações entre o plano físico e espiritual.

Jurema, em suas meditações, sentia-se guiada por uma sabedoria ancestral que transcendia as fronteiras do tangível. Ela sabia que, ao compreender as dinâmicas espirituais da imensa cidade, através de suas orações poderia contribuir para a elevação dessas almas que, por mais das vezes, se viam perdidas em meio ao turbilhão do dia a dia, da vida presente e da passada também.

Enquanto a noite avançava, Jurema continuava sua prece silenciosa. As luzes de São Paulo, agora menos intensas com o adormecer da metrópole, pareciam dançar em harmonia com as energias benfazejas que ela sentia pela chegada dos queridos Espíritos Amigos que se juntavam a ela em oração.

A cidade, com sua complexidade e diversidade, revelava-se não apenas como um conglomerado de concreto, mas como um espaço onde o físico e o espiritual se entrelaçavam, tecendo uma narrativa única e cheia de significado. E assim, em meio ao caos, Jurema sentia-se parte de algo maior, algo que transcendia as fronteiras do visível, guiando-a na jornada de compreender e harmonizar as energias de São Paulo sob a égide de Jesus.

/ Artigos Publicados: 139

Revisor Linguístico, Palestrante e Instrutor Espírita.