Marcelo do Ó, Jornalista e Narrador Esportivo.
“… mas é preciso que a sua boa vontade o haja conservado à disposição daquele que o tinha de empregar”. E.S.E., cap. XX, item 2.
Nada deve ser mais chato do que treino tático. Para quem não conhece os caminhos da bola, é aquela sessão de treinamentos em que os jogadores viram verdadeiros bonecos de posto. O treinador e seus auxiliares os ajeitam no campo e tentam ensaiar movimentos coordenados de passe, corrida, marcação, enfim, o que eles terão que executar nos jogos ali adianta. Dá trabalho.
Talvez apenas os treinos físicos – aqueles em que a bola passa léguas distante, trocada pelos ferros, bicicletas, supinos e outros instrumentos de tortura para os sedentários – sejam tão pedantes. No fim das contas, todos são fundamentais para que, ao final de um ano, um jogador se torne campeão, escreva o nome para sempre na história de um clube, ganhe mais dinheiro. Em suma, prospere na carreira e na vida.
O que isso tem a ver com o coração da gente? Tudo. Qualquer exemplo do esporte se transporta para a vida da gente com um mínimo esforço e ensina o nosso caminho de aprimoramento. Não à toa o mundo para e vê. Numa sessão de Evangelho no Lar (recomendo), caiu ao sabor da inspiração esse trecho acima, mais um que o tempo me fez compreender melhor.
Tempo amigo, seja legal. Corro contigo pela madrugada, só me derrube no final.
Quando lia esta passagem Bíblica, eu achava que ela dizia apenas sobre a nossa dificuldade em abraçar a religiosidade e, principalmente, o serviço dentro da Doutrina apenas. Afinal, fala em trabalhadores da última hora, escolhidos porque preparados estavam e ansiosos viviam à espera da oportunidade do trabalho na vinha do Senhor. Nada mais óbvio, certo? Nem tanto.
Os amigos do Alto encadearam a sessão com um textinho de abertura, também aberto “aleatoriamente”, que mandou um recado direto. Ítem 77 de “Sempre Melhor”, escrito por José Carlos de Lucca: “Privilegiamos os acontecimentos do mundo de fora, não dando a devida importância ao que está acontecendo em nosso mundo interior. É preciso inverter isso!”
A exclamação me chamou a atenção e abriu o caminho para o significado real do “labor” que traz o texto de Mateus. Ligando os pontos, o nosso verdadeiro trabalho nesta encarnação é buscar o autoconhecimento, o aprimoramento do nosso coração, das nossas decisões, do nosso olhar sobre a vida. Esse é o nosso título ao final de uma encarnação. A verdadeira taça de campeão que levantamos no Plano Maior.
Muitos de nós, por preguiça, por perder para as nossas dificuldades Espirituais e de comportamento, atrasamos nossa entrada nesta rotina, esperando que uma estrela de Davi nos atinja a testa e nos mostre uma estrada lisa e retinha rumo ao Mundo Feliz. Gastamos horas que não voltam olhando o mundo externo, nos smartphones, nos computadores, na televisão, na própria mente. Fugimos diariamente do treino físico, da sessão tática da Alma. Não nos preparamos para a última hora.
O Evangelho nos traz a dádiva de saber que não importa o momento em que Jesus nos chame à nossa missão verdadeira: evoluir o Verdadeiro Eu. Ele apenas espera que estejamos preparados para o chamado, mesmo que aos 40 minutos do segundo tempo. Se de fator quisermos, estivermos apenas aguardando a oportunidade, ela virá.
Cabe a cada um de nós investirmos as horas na elevação lateral da leitura edificante, na rosca direta da meditação que investiga a alma, no supino mental da reforma íntima. A preparação individual para o treino de posicionamento no campo da vida, nas situações do dia a dia que nos causam desconforto.
É cotidiano, diário, muitas vezes chato mesmo, um porre no começo, mas não teve um atleta que eu conheci em 20 anos de profissão que tenha me negado que o único caminho para a vitória seja a disciplina. É no esporte, é na vida, é no Evangelho. Então, vamos trabalhar?
Perfeita essa reflexão